quinta-feira, 4 de julho de 2013

IDEALIZAÇÃO DA HUMANIDADE FUTURA - Augusto dos Anjos

A grande problemática de se colocar Augusto dos Anjos em alguma escola literária é justamente a sua solidão: solidão criadora, que o identifica e o faz, portanto, único, um fenômeno tanto na estética, quanto no tema. Augusto, como vemos no poema que segue, é um profeta, um "adivinhador" do futuro, seu olhar afinado conclui com exatidão o futuro como um cidadão que mirava no espelho seu rosto sem se deixar enfeitiçar. Tal futuro, para Augusto, estava cronologicamente distante, mas real e implausível como a capacidade de um tolo produzir poemas similares ao seu. Em meio em tantas revoltas populares que acontecem no mundo atualmente, ouvimos Augusto dos Anjos gritar a verdade do início do século XX e, com isso, predizer, melhor que qualquer ser vivente desta época, a natureza humana na atualidade. Para mim, Augusto dos Anjos é um ser sobrenatural, daqueles que só nascem uma vez e que dificilmente se repetem entre as genealogias animais.

IDEALIZAÇÃO DA HUMANIDADE FUTURA - Augusto dos Anjos

Rugia nos meus centros cerebrais
A multidão dos séculos futuros
— Homens que a herança de ímpetos impuros
Tornara etnicamente irracionais!

Não sei que livro, em letras garrafais,
Meus olhos liam! No húmus do monturos,
Realizavam-se os partos mais obscuros,
Dentre as genealogias animais!

Como quem esmigalha protozoários
Meti todos os dedos mercenários
Na consciência daquela multidão...

E, em vez de achar a luz que os Céus inflama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!

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