Ano de Lançamento: 1966
Direção: François Truffaut
O bom no filme de Truffaut é sua
eterna busca por questões que afetam diretamente ao homem, como ele faz em Os
incompreendidos. Truffaut, em sua trajetória cinematográfica, se arrisca em
diversas produções, que vão desde o terror (no terror-charmoso de A Noiva
estava de Preto), passando pelo romance (Amor de Adolescente, O homem que amava
as mulheres entre outros) e na ficção científica. No último caso, Fahrenheit
451 é uma ótima pedida. Confesso que pouquíssimas vezes assisto ficção científica,
confesso, de igual modo, que nunca assisti, completamente, filmes como starwars
ou Senhor dos Aneis ou qualquer coisa do gênero (Game of Throne, Harry Potter,
Amanhecer etc), é um tipo de filme que não me agrada mesmo; sou fã da
realidade, das coisas tangíveis, das relações lógicas entre os seres humanos e
suas tensões. No entanto, Truffaut me fez ter que assistir a ficção científica
e, como eu esperava, me surpreendeu. Fahrenheit 451 é uma ficção científica no estilo
Big-Brother passada num futuro em que as pessoas têm aversão a livros e vivem
imersas em uma realidade fantasiosa, criada por um discurso de que o livro só
traz divagações, problemas e sofrimentos para a espécie humana; Nessa
ideologia, o conhecimento é uma espécie de segregador dos homens, por causa
dele é que existem as mazelas sociais e as doenças que acabam com a humanidade,
todos os homens têm que ser iguais, ou seja, ninguém pode saber mais do que o
outro, situação impossível numa sociedade onde existam livros. Desse modo, a
solução para que exista essa hegemonia mental, a queima do livro é uma das
principais atividades, atividade essa dada aos bombeiros.
Como se poderia esperar, tal
ideologia futurista (que penso ser atual) é uma idea refutada por algumas pessoas,
admiradoras do livro e do conhecimento, pessoas que são capazes de sofrer
verdadeiros sufrágios e, ainda, perder a vida, em amor a seus livros. Vale
mencionar, com isso, que ter um livro, nessa sociedade homogênea, é um crime passível
de prisão e destruição dos bens.
A história de Fahrenheit 451
passa-se no batalhão de bombeiros, mais especificamente, com Montag, um
bombeiro que está prestes a receber uma promoção e subir na hierarquia do
batalhão. Respeitado, verdadeiro crente na ideologia do conhecimento homogêneo,
Montag é um carrasco impassível daqueles que possuem livros em suas casas.
Agressivo em sua missão, Montag invade inúmeras casas e é quem mais queima
livros do batalhão. No entanto, em um dia comum, Montag encontra uma professora
no trem que sempre pega para a sua casa, o que vai marcar profundamente seu
modo de ver o livro e os conteúdos existentes nele. A professora o indaga e
busca as motivações das crenças de Montag, indagações que mexem com a forma de
pensar de Montag; Outro fato que o impulsiona suas indagações, é quando Montag
presencia uma mulher que desiste da vida e prefere ser queimada com os livros
do que viver em um mundo sem livro, isso mexe ainda mais com o bombeiro. Esses
e outros exemplos levam Montag a um refletir e escolher seguir essas pessoas
que acreditam tanto num ideal.
Truffaut, como sempre, é sutil, é
romântico, gosta de atuar com belas mulheres e está sempre levando seu
telespectador-leitor a indagar-se sobre a realidade. No filme, o diretor abusa
dos efeitos (avançadíssimos para época) e na produção, fazendo um filme
futurista e bastante interessante. Geniais as cenas do futuro criadas no filme,
de fato, o diretor parece prever o hoje, sobretudo das televisões interativas;
o diretor só não conseguiu prever o desenvolvimento do telefone, embora essa
seja uma falta lógica, naquele contexto.
Por fim, é interessante notar a
genialidade do filme, a interessante indagação que ele nos leva; a todo o
momento o telespectador é impelido a indagar-se como seria um mundo sem livros?
Como chegaríamos a uma civilização se o conhecimento encontrasse barreiras
físicas, como a que é retratado na película? O que seríamos se não pudéssemos ler
ou poder decodificar informações? A discussão retratada por Truffaut é atual e serviria
como um bom exemplo de sociedade totalitária, que impedem o livre desenvolvimento
da informação; serviria também como um emblema para os governos, que se mascaram
de democráticos, mas que, no fundo, com o pouco investimento no conhecimento e
na informação, acabam por ser totalitárias também e levam muitos ao sofrimento
e a verdadeiros feudos modernos.
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