quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fernanda Brum - Vaso de Alabastro

Adoroa a Deus é mais que cantar

Adorar a Deus é mais que erguer as mãos

Não consiste em rituais e tradicões

Adorar a Deus é mais, mais do que vãs repetições


O vaso de alabatro tem que ser quebrado

E o perfume tem que ser, totalmente derramado

Só quem conhece a grandeza do perdão que recebeu

Entrega em amor, todo o tesouro seu

para adorar a Deus


Adorar a Deus vai além das emoções

É o Santo Espírito tocando E transoformando os corações

Pois a unção e o poder do teu olhar

Nos faz sorrir, nos faz chorar

Nos faz perder para ganhar

terça-feira, 15 de março de 2011

Augusto dos Anjos - Psicologia de um vencido

Há muito devo a esse blog uma postagem sobre Augusto dos Anjos, que quem me conhece sabe que ele é um dos poetas que mais admiro na literatura brasileira. Para mim, Augusto dos Anjos é um dos maiores poetas de nossa literatura, podendo até ser comparado com Camões, expoente máximo de nossa literatura. Alguns podem até dizer: " Que absurdo" ou " Como assim?". De fato, só quem conhece, e ler arduamente, sedentamente a obra de Augusto dos Anjos e seus poemas formalmente perfeito e espiritualmente profundos pode chegar a essa conclusão. Nos versos que se seguem, podemos ver o tratro de Augusto dos Anjos pela forma, mas sem perder por um instante a poderosa essencia do poema. Em Augusto vemos um trabalho arduo de metrificação que ao mesmo tempo parece ser tão natural, dada a excelência das formas. Numa análise profundo do escrito de Augusto dos Anjos vemos um decadentísmo ultragante, galopante, o total desprezo pela espécie humana, que segundo os outros versos do genial poeta paraibano, é fruto " dos partos mais obscuros da natureza":

Versos Intímos


Vês, Ninguém assistiu ao formidável
enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável


Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que nessa terra miserável,
mora, entre feras, sente inevitável
necessidade de também ser fera


Toma um fósforo. Acende o teu cigarro!
Um beijo amigo é a vespera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja


Se a alguém causa pena as tuas chagas,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija.


Nessa genial obra, Augusto dos Anjos encerra toda e qualquer atitude humana,; anuncia o fim da espécie , que por causa de seu egoísmo e ganância decreta o início do fim da história. Dito isso em outras palavras, seria que o ser humano, como os outros animais, é um ser que precisa estar em grupos, que só se desenvolve com a ajuda dos outros, ou seja, confiando no outro que está sempre a seu lado. Por tanto, o ser humano só se desenvolve porque é um ser social, um ser que cresce pautado na confiança pelos outros seres de sua espécie, que como as outras, quer se perpetuar ad infinitum (sic). Nesse poema, Augusto dos Anjos desencapa e traz a lume toda a ganância e verdade do homem do século vinte que se anunciava promissor e cheio de novidades para humanidade, mas que de fundo trazia um odor insuportável, imoral, odor esse que se espalha e faz os mais fracos de vítima, odor que exala do coração do homem moderno - a ganância. Nesse raciocinio, é importante lembrar as palavras cantadas por Vanessa da Mata em "absurdo": " Desmatam tudo e reclamam do tempo, que ironia , desequilíbrio que alimenta as pragas, alterado grão, alterado pão, sujamos os rios, dependemos das águas, tanto faz os meios violentos, luxúria, ética do perverso vivo, morto por dinheiro" as palavras de Vanessa parecem um grito que ecoa desde as entranhas do poema Versos Ítimos e transormam em signo o clamor ancorado no eu-lírico de Versos íntimos. Esse queconflitante ser, a partir daquele momento (ínicio do século XX), sente um entussiasmo sem igual, que tomava conta da humanidade, que, por sua vez, pensava estar livre de qualquer dependência divina:o homem começara, finalmente, a andar com as próprias pernas. É desse momento da história da raça humana, que Augusto dos Anjos anunciava a semente do que seria hoje o fim da raça humana, que destroi-se e escravisa o outro. Toda essa visão, toda essa leitura do mundo que se anunciava, Augusto percebia por trás da cortina colorida das novidades um mundo cheio de horrores e monstros chamados raça huma.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Reiner Maria Rilker - Canção de Amor

O monstruoso poema de Rilker merece mais uma análise, pois a obra de arte poliédrica, como a de Rilker, merece inúmeras (infindaveis) análises, dada a sua natureza complexa e formidável. Na poesia Canção de amor, o eu-lírico sente-se amarrado a amada pelo amor. O amor, um habilidoso músico, toca e domina a vida dos amantes, que como mera corda de seu violino, são tangidos para que juntos toquem a melodia perfeita que encrementa o coração dos apaixonados. Nessa poesia, Rilker entrega-se sem esforço, a uma força que o domina, que ao mesmo tempo o faz escravo, o liberta, o faz vencedor, dominado e dominador. Assim configura-se a eterna dicotomia do amor - que como já descoberta por Camões ("o amor é fogo que arde sem doer') e pelo Aposto Pedro em Carta ao Conrínthios (texto Bíblico - I Corínthias 13) em que o santo diz que o amor é o sentimento mais podero da tríade perfeita dos sentimentos humanos (A fé, a paz e o amor) - é um sentimento cheio de ondulações, como as notas de um violino.l

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Rainer Maria Rilker - canção de amor


Como hei-de segurar a minha alma
para que não toque na tua? Como hei-de
elevá-la acima de ti, até outras coisas?

Ah, como gostaria de levá-la
até um sítio perdido na escuridão
até um lugar estranho e silencioso
que não se agita, quando o teu coração treme.

Pois o que nos toca, a ti e a mim,
isso nos une, como um arco de violino
que de duas cordas solta uma só nota.

A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.


Railker é sempre notado por sua morbides, pelo apreço à morte, às coisas obscuras. Contudo, nem sempre o poeta traz essa marca em sua poesia. Em canção de amor, Railker mostra o seu lado mais sensual, amoroso. A atmosfera de solidão e desapego pela vida dá lugar a um coração apaixonado, enfeitiçado pelos movimentos da amada, pelo olhar incandescente dela que ao mesmo tempo parece frio e iluminador. Aqui, convida a amada a um lugar em que os dois, juntos e sós, possam desfrutar com mais intensidade e despudores, os frutos que nascem da árvore que os dois juntos cultivam, a árvore do amor e da paixão.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Reiner Maria Rilker - Hora Grave

Rilker é um dos mais celebres poetas do modernismos alemão. Conterrâneo de Kafka, é um dos mais fortes e reconhecidos autores do existencialismo moderno. Foi ele quem levou até o último limite o pensamento existencialista, sem ao menos o desgastar. Na poesia de Rilker, por vezes ,vemos um poeta preocupado com a forma e a descrição, Rilker era dono de verso raros e linguagem tratada, porém, simples. Mas é quando volta-se para o interio do homem moderno que Rilker mostra toda a sua força e talento: Rilker mergulha profundo, e como poucos, na alma humana produzida a partir da primeira revolução industrial, que desemboca, mais tarde.,no homem pós-moderno. Nele, o poeta encontra um imenso e inacabado lago de dor, sofrimento e angústia. Rilker soube tratar da existência humana, suas limitações, suas glórias e pequenez com maestría. A poesia de Rilker é incomum, pois, nela, a alma humana é moldada a seu querer, como se o poeta tivesse o mesmo dom do escultor (Rilker era secretário de Gaudin. Alguns críticos afirmam que o convívio com o escultor francês influenciou e muito a poesia do poeta praguense). No poema a seguir, vemos como é importante e forte a genialidade de Reiner Maria Rilker:

Quem agora chora em algum lugar do mundo
sem razão chora no mundo
chora por mim

Quem agora rir em algum lugar da noite,
sem razão rir dentro da noite
ri-se de mim

Quem agora caminha em algum lugar do mundo
sem razão caminha no mundo
vem a mim

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
sem razão morre no mundo
olha pra mim

(tradução: Paulo Plínio Abreu)